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Millennials dão gás à cortiça

  • 30-03-2019
  • PAG 19
  • Expresso /Economia

Millennials dão gás à cortiça  
 
Sector passa a barreira dos €1000 milhões. Agora, é preciso ter mais matéria-prima para manter o ritmo  
 
O que faz um sector quando cumpre a ambição de passar a barreira dos mil milhões de euros de exportações? Assume a meta de "crescer 4,5% ao ano, dentro da média dos últimos exercícios, para atingir €1,3 mil milhões em cinco anos", diz João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR).  
 
"Temos uma quota de 70% nas exportações globais, sem contar com os produtos transformados em Portugal e reexportados por outros paí­ ses. Temos 90% da atividade industrial, o que significa ter mão de obra e tecnologia con­ centradas aqui. Estamos num sector paradigmático do de­ senvolvimento sustentável", destaca o dirigente associati­ vo, animado pelo potencial de crescimento de uma fileira que retém 14 milhões de toneladas de CO2 por ano.  
 
Atento às tendências de um futuro já marcado pela ecologia e a sustentabilidade, João Rui Ferreira acredita que Portugal pode ter na liderança mundial da sua fileira da cortiça um trunfo de peso para jogar "e quebrar de vez com a utopia de que não é possível criar riqueza sem comprometer os recursos naturais e as pessoas".  
 
Em 2018, as vendas da in­ dústria corticeira no merca­ do externo somaram €1067,6 milhões, mais 8,1% do que no ano anterior, bem acompanha­ das pela dinâmica das rolhas, que atingiram €752,8 milhões (mais 6,1%). E o mundo do vinho parece gostar cada vez mais da rolha de cortiça para criar valor: sete em cada dez garrafas escolhem esta rolha.  
 
No Top 100 dos vinhos mais vendidos na China, 95% têm rolhas de cortiça. No Top 100 dos vinhos premium dos EUA, 72% também têm.  
 
Mais: "Na China, se a garra­ fa tem rolha de cortiça, vale em média mais 5,15 dólares.  
 
Nos EUA vale mais 3,87 dó­ lares", sublinha o presidente da APCOR, que assenta aqui um dos pilares da estratégia de promoção do sector para manter a trajetória de cresci­ mento nos próximos anos. Se - apesar da multiplicidade de novas aplicações desenvolvi­ das nos últimos anos - a rolha continua a ser a rainha nesta indústria, com uma quota su­ perior a 70% das vendas para o exterior, os saltos dados em 2018 nas exportações para os Estados Unidos (11%) e China (17%) confirmam estes países como alvos naturais. "São mer­ cados base para influenciar­ mos países produtores. Basta pensar que os chineses são os maiores consumidores dos vi­ nhos australianos e dos vinhos de Bordéus", justifica.  
 
E há um foco nos consumi­ dores, com o segmento dos millennials (nascidos depois de 1985) em destaque. "Represen­ tam 40% do consumo de vinho nos EUA e vão ganhar peso na China. São um público extre­ mamente interessante e que permite otimizar a nossa forma de comunicação, por estarem próximos das questões ambien­ tais e do universo digital, mais fácil de alcançar com menos recursos", acrescenta o presi­ dente da APCOR sem esquecer que a página de Facebook do 100% Cork nos EUA tem 140 mil seguidores e a homónima chinesa soma mais 55 mil.  
 
Mas em 2018, a par da subi­ da das exportações, houve um aumento de 22,6% nas impor­ tações, para €215,4 milhões.  
 
"No contexto florestal atual, responder ao aumento da pro­ cura impõe importações. Mas há incorporação de valor, na or­ dem dos 85 cêntimos por cada euro exportado", destaca João Rui Ferreira.  
 
Nesta subida em flecha das importações pesou o facto de 2018 ter registado a menor extração de cortiça num ciclo de nove anos, mas, como diz o presidente da APCOR, "não é preciso ser um economista bri­ lhante para ver os números da importação de matéria-prima e perceber que teríamos merca­ do se houvesse mais sobreiros a produzir".  
 
Há mesmo um alerta: "Para a ambição de crescimento que temos, é preciso trabalhar a frente florestal. Há utilizações novas de cortiça em stand by, à espera de um aumento de capacidade na oferta de maté­ ria-prima."  
 
Margarida Cardoso  
 
TRÊS PERGUNTAS A  
 
João Rui Ferreira  
 
Presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR)  
 
P Vamos ter mais sobreiros em Portugal?  
 
R Há grande interesse nas zonas afetadas pelos incêndios e noutras que estão a repensar o seu mosaico de produção. Temos muitos contactos de autarquias e associações de produtores.  
 
Dizemos sempre que haverá procura de cortiça para quem plantar sobreiros e que esta é uma espécie bem adaptada ao território, resiliente ao fogo.  
 
P A Corticeira Amorim está a plantar...  
 
R As notícias referem que o grupo vai investir €7 milhões a €10 milhões na floresta para plantar 60 mil hectares de sobreiros na próxima década.  
 
Isso pode influenciar outras empresas e trazer um novo modelo de silvicultura, mais produtivo, para replicar noutras zonas do país.  
 
P Mas esta é uma questão urgente?  
 
Para lá da questão das alterações climáticas e dos incêndios, ninguém pode pensar que a matéria-prima é um dado adquirido. Na floresta tudo leva tempo e se não agirmos agora pagaremos a fatura no futuro.  
 
Sentimos que há espaço para a mancha de sobreiros crescer em toda a Península Ibérica.  
 

Número Referência(s) APCOR: 5 | Número Referência(s) CORTIÇA: 10

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