Millennials dão gás à cortiça
Sector passa a barreira dos €1000 milhões. Agora, é preciso ter mais matéria-prima para manter o ritmo
O que faz um sector quando cumpre a ambição de passar a barreira dos mil milhões de euros de exportações? Assume a meta de "crescer 4,5% ao ano, dentro da média dos últimos exercícios, para atingir €1,3 mil milhões em cinco anos", diz João Rui Ferreira, presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR).
"Temos uma quota de 70% nas exportações globais, sem contar com os produtos transformados em Portugal e reexportados por outros paí ses. Temos 90% da atividade industrial, o que significa ter mão de obra e tecnologia con centradas aqui. Estamos num sector paradigmático do de senvolvimento sustentável", destaca o dirigente associati vo, animado pelo potencial de crescimento de uma fileira que retém 14 milhões de toneladas de CO2 por ano.
Atento às tendências de um futuro já marcado pela ecologia e a sustentabilidade, João Rui Ferreira acredita que Portugal pode ter na liderança mundial da sua fileira da cortiça um trunfo de peso para jogar "e quebrar de vez com a utopia de que não é possível criar riqueza sem comprometer os recursos naturais e as pessoas".
Em 2018, as vendas da in dústria corticeira no merca do externo somaram €1067,6 milhões, mais 8,1% do que no ano anterior, bem acompanha das pela dinâmica das rolhas, que atingiram €752,8 milhões (mais 6,1%). E o mundo do vinho parece gostar cada vez mais da rolha de cortiça para criar valor: sete em cada dez garrafas escolhem esta rolha.
No Top 100 dos vinhos mais vendidos na China, 95% têm rolhas de cortiça. No Top 100 dos vinhos premium dos EUA, 72% também têm.
Mais: "Na China, se a garra fa tem rolha de cortiça, vale em média mais 5,15 dólares.
Nos EUA vale mais 3,87 dó lares", sublinha o presidente da APCOR, que assenta aqui um dos pilares da estratégia de promoção do sector para manter a trajetória de cresci mento nos próximos anos. Se - apesar da multiplicidade de novas aplicações desenvolvi das nos últimos anos - a rolha continua a ser a rainha nesta indústria, com uma quota su perior a 70% das vendas para o exterior, os saltos dados em 2018 nas exportações para os Estados Unidos (11%) e China (17%) confirmam estes países como alvos naturais. "São mer cados base para influenciar mos países produtores. Basta pensar que os chineses são os maiores consumidores dos vi nhos australianos e dos vinhos de Bordéus", justifica.
E há um foco nos consumi dores, com o segmento dos millennials (nascidos depois de 1985) em destaque. "Represen tam 40% do consumo de vinho nos EUA e vão ganhar peso na China. São um público extre mamente interessante e que permite otimizar a nossa forma de comunicação, por estarem próximos das questões ambien tais e do universo digital, mais fácil de alcançar com menos recursos", acrescenta o presi dente da APCOR sem esquecer que a página de Facebook do 100% Cork nos EUA tem 140 mil seguidores e a homónima chinesa soma mais 55 mil.
Mas em 2018, a par da subi da das exportações, houve um aumento de 22,6% nas impor tações, para €215,4 milhões.
"No contexto florestal atual, responder ao aumento da pro cura impõe importações. Mas há incorporação de valor, na or dem dos 85 cêntimos por cada euro exportado", destaca João Rui Ferreira.
Nesta subida em flecha das importações pesou o facto de 2018 ter registado a menor extração de cortiça num ciclo de nove anos, mas, como diz o presidente da APCOR, "não é preciso ser um economista bri lhante para ver os números da importação de matéria-prima e perceber que teríamos merca do se houvesse mais sobreiros a produzir".
Há mesmo um alerta: "Para a ambição de crescimento que temos, é preciso trabalhar a frente florestal. Há utilizações novas de cortiça em stand by, à espera de um aumento de capacidade na oferta de maté ria-prima."
Margarida Cardoso
TRÊS PERGUNTAS A
João Rui Ferreira
Presidente da Associação Portuguesa da Cortiça (APCOR)
P Vamos ter mais sobreiros em Portugal?
R Há grande interesse nas zonas afetadas pelos incêndios e noutras que estão a repensar o seu mosaico de produção. Temos muitos contactos de autarquias e associações de produtores.
Dizemos sempre que haverá procura de cortiça para quem plantar sobreiros e que esta é uma espécie bem adaptada ao território, resiliente ao fogo.
P A Corticeira Amorim está a plantar...
R As notícias referem que o grupo vai investir €7 milhões a €10 milhões na floresta para plantar 60 mil hectares de sobreiros na próxima década.
Isso pode influenciar outras empresas e trazer um novo modelo de silvicultura, mais produtivo, para replicar noutras zonas do país.
P Mas esta é uma questão urgente?
Para lá da questão das alterações climáticas e dos incêndios, ninguém pode pensar que a matéria-prima é um dado adquirido. Na floresta tudo leva tempo e se não agirmos agora pagaremos a fatura no futuro.
Sentimos que há espaço para a mancha de sobreiros crescer em toda a Península Ibérica.
Número Referência(s) APCOR: 5 | Número Referência(s) CORTIÇA: 10